quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UMA HORA



Tudo que tive em meses
Tudo que consegui em dias
Tudo que precisa em anos
Tudo que o “Divino” me concedeu
Tudo que eu podia querer
Nada que eu pudesse fazer
                         Para eternizar o momento

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

SEXO DAS ALMAS


Eu não quero o sexo pelo sexo
Eu quero as almas
Mas, Por Deus!
Não burocratizem as almas
Não transformem o amor
Numa operação aritimética
Num cartão de crédito
  Numa equação matemática
Cheia de fórmulas
Me canso de fórmulas
Elas são inúteis
E inútil pensar
Que cabemos em fórmulas

Somos, por natureza, seres que extrapolam
A nossa medida
É a desmedida
Porque somos bichos
Com coração e alma
E nisto reside toda a diferença
Nossa grandeza
E nossa miséria
Eu quero as almas
A vertigem das almas
O gozo desbragado
A bebedeira inocente
De quem só quer sentir
Sem pensar

Por Deus, não transformem o amor na rotina
Estúpida
E mecânica
Do supermercado
Uma vez por semana
Do sexo burocrático
Papai mamãe
“-Foi bom pra você?
As palavras escolhidas a dedo
Para não ferir susceptibilidades

Eu não quero o sexo pelo sexo
Eu quero as almas
E o amor absoluto
Depois, deixem que eu decida em que porões
Acomodarei meus fantasmas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

QUALQUER DIA



Qualquer dia desses
Como que se revelando
Das sombras e da névoa
Em que se apartaram
Sem deixar vestígio
Há três mil anos
Nossos caminhos vão se cruzar
Num calçadão qualquer
De uma cidade
Num encontro agendado pelo acaso
Desde os tempos das historias
De castelos e contos de fadas
Eu lhe direi:
-Oi, quanto tempo!
E você dirá:
-Parece que foi ontem.

Qualquer dia desses
Alguém te chamará
Pelo alto-falante de uma estação distante
A comparecer na sessão de “achados e perdidos”
E lá estarei eu
“Achado”.

Bem sei que o mundo é pequeno
E as pedras se encontram
E vasta é a solidão
Que nos une
Desde tempos imemoriais

Qualquer dia desses
Também tendo o acaso como cúmplice
Pegaremos o mesmo avião de passageiros
Com destino ao país do faz-de-conta
E marcaremos encontro
Num café de paris
Para jantar com duendes

Qualquer dia desses
Faremos contato
Pelas linhas cruzadas
De um fone celular
Você dirá:
-Olá
E eu lhe direi:
-Venha depressa
Para que a distância
Nunca mais
Nos mergulhe
No silêncio.

O AFETO



Cultivemos o afeto
O afeto gratuito
Sem contraprestação
Nem garantias
O afeto sem tamanho
Nem medida
Sem fronteira
Território imenso
Não demarcado
A alma entregue
Sem comércio

Cultivemos o afeto
Antes que seja tarde

Cultivemos o afeto inocente
O afeto dos puros
O afeto que nada busca
Nada deseja
Nada aspira
Senão outro afeto
Compartilhado

Cultivemos o afeto
Antes que o silêncio anule nossos gestos
Antes que os sentidos se calem
Antes que seja tarde!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UM OTIMO DIA



Um bom chalé
Um bom café
Um bom dia
Um bom cheiro
Um bom beijo
Um bom dia
Um bom abraço
Um bom amasso
Um bom dia
Um bom papo
Um bom laço
Um bom dia
Um bom som
Um bom tom
Um bom dia
Um bom amor
Um bom calor
Um bom dia
Um bom banho
Um bom sonho
                                                                                   Um ótimo dia...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

AMOR NA SEMENTE



Quando o meu amor estiver ainda verde
Regue com seu sorriso
E o aqueça com o sol do seu olhar,
Cuide para que cresça e frutifique
E não se torne estéril


Quando o meu amor estiver maduro
Que a colheita seja feita por suas mãos,
Quando meu amor amadurecer
Não deixe que passe do ponto
Para que as pragas e as ervas daninhas
Não o façam sucumbir


Quando o meu amor envelhecer
E começar a despetalar e morrer
Use os seus pedaços como adubo,
Deposite no solo sagrado do coração
E poderá ver a ressurreição
Pois assim como as sementes é o meu amor
Ás vezes precisa morrer pra germinar.
      

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O ANJO QUE ME DEIXOU ONTEM Á NOITE


O anjo que encontrei numa certa noite
Foi embora sem deixar vestígios
Nem recado
Só avisou ao porteiro que partia
Para rumo e local ignorados.

Fiquei com minha dor
Exposta ao tempo
O coração ao relento
E o olhar cansado
O anjo só avisou que partiria
Para rumo e local ignorados.

Ficou em mim o sorriso doce e tímido
A marca da pele
A luz do encantado
O anjo só avisou que partiria
Para rumo e local ignorados.

COISA QUE EU GOSTARIA DE TER ESCRITO III

Mamão Com Mel

GONZAGUINHA

Parece até que eu jamais falei no amor
Parece até que jamais amei
Criança é mesmo assim
Bobagem, beleza
Só fala maravilhas banais

Eu quero amar você de todas as maneiras
Que eu puder viver você
Por todos os caminhos que eu puder
Sentir você e em todos os sentidos do prazer

Eu quero amar você de todas as maneiras
Que eu puder viver você
Por todos os caminhos que eu puder
Sentir você e em todos os sentidos do prazer

Ah, que céu !
Mamão com mel
E eu nem preciso asas pra voar
Melhor é bem difícil de sonhar

Amar, viver, sentir, a vida com você
Amar, sentir você mas que prazer

 

 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

SONETO PARA VOCÊ



A primeira vez que eu te vi não me contive
Quis me aproximar por um momento
Que a tua beleza rara me cative
Que a tua morada seja o meu pensamento

Cantei com timidez tua beleza
E a luz do teu olhar me iluminou
Quanta graça, meu Deus, que singeleza!
No breve sorriso que ficou

A segunda vez que te vi foi à distância
Apenas pude perceber tua passagem
E o movimento que teu andar desperta

Mesmo que a emoção se entorpeça
Ainda que você desapareça
Valeu a pena tua descoberta

ALMAS GÊMEAS


Bem aventuradas as almas
As almas gêmeas
As almas próximas
Tão próximas que podem entre si
Fazer contato
Pelos canais da energia pura
Que não tem principio
Nem fim

Bem aventuradas as almas
As almas gêmeas
As almas próximas
Que se anunciam sem cerimônia
Quando se dão conta dos sinais
Do encontro

Bem aventuradas as almas
As almas gêmeas
Luzes ambulantes
Miragens coloridas
Vaga lumes das noites

Bem aventuradas as almas
As almas próximas
As almas gêmeas

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ONDE QUER QUE VOCE ESTEJA



Nossas imagens se fundiram num tempo
Não determinado
Nos encontramos há séculos
E nem desconfiávamos
Que éramos passageiros
De todos os trens que partem
Nos cincos continentes

Quando você foi para as cidades
Eu fugi para os campos
Exilei-me nas montanhas
Nunca, porem, perdemos contato
A sintonia fina
Que a exata medida
Nos permite ser:
Boca, ouvidos
Olhos, alma
Coração, gente

Para todo o sempre
Nos aproxima a distância
Somos dois sobreviventes
Assim mesmo e de tal modo
Que por onde você esteja
Mesmo que ninguém nos veja
Nunca estaremos ausentes

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

CANTIGA DE NINAR


Às vezes preciso de colo
Mas não tenho ninguem 
Cantigas de ninar me fariam bem
Mas, cantar para quem?
Às vezes sou fragil
(que até quebro)
Tão agua com açucar
Tão nada
Tão prostituta vulgar
Que se oferece de graça
Só por um carinho
Um beijo
Um aceno
Um abraço desinteressado

Ah, mas, hoje não!
Não me peçam considerações metafísicas
Acerca do mundo
E do destino irremediavél das coisas
Nem que especule sobre o insondável

Hoje eu só quero colo
Um lugar quente que me aqueça
Que me proteja do vento e da chuva
Um porto seguro
Onde possa ancorar minha carência

A manhã, não sei!
Posso já ter mudado de frequência
Ter virado pó
Gota d'agua
Grão de areia
Uma vaga lembrança
Ou algum ponto remoto
Da essência.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

COISA QUE EU GOSTARIA DE TER ESCRITO II

Memória da Pele

João Bosco


Eu já esqueci você
Tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre
A sonhar em vão
Cor vermelha carne da sua boca, coração
Eu já esqueci você, tento crer
Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor
Sua casa, sua cama
Sua carne, seu suor
Eu pertenço a raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
Quem se lembra de você em mim
Em mim
Não sou eu sofro e sei
Não sou eu finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
Tranço em pernas que procuram enfim
Não sou eu sofro e sei
Quem se lembra de você em mim
Eu sei, eu sei
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia
Na minha veia
Bate é no champanhe que borbulhava
Na sua taça e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre a sonhar em vão
Cor vermelha, carne da sua boca, coração

COISA QUE EU GOSTARIA DE TER ESCRITO(A SAGA)

 

Canto Para A Minha Morte

Raul Seixas

 
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SE ALGUM DIA TE REENCONTRAR



Se algum dia eu te reencontrar
Serei mais delicado
Terei mais cuidado
Observarei melhor tua geografia
Como o teu universo se combina
Teus gestos
As medidas do teu cansaço

Se algum dia eu te reencontrar
Terei mais cuidado
Ficarei atento
Para que o cotidiano
Cinzento
A traça
A ferrugem da rotina
Não nos contaminem
Nem se interponham
Nada será pela metade
Nem clandestino
Oculto

Se algum dia te reencontrar
Nada terá se perdido
Terei mais cuidado com as palavras
Que são lâminas
Serei dedicado
Cuidarei para que a vida seja calma
No tumulto
E toda a eternidade se resuma
Na fração exata
De um minuto

POUCO AMOR



Quem tiver pouco amor pra dar
Favor manter distância
Meu coração não se basta com pouco amor
Quer a vertigem
A emoção identificavél em cada poro
Visível
Quer tumulto

Quem tiver pouco amor pra dar
Afaste-se de mim
Deixe passagem
Para o momento pleno
Império dos sentidos
Fogueira das almas
Qualquer maneira de amor vale a pena.
Mas, pleno.

Por isso, quem tiver pouco amor pra dar
Quem acha que amor é colírio
Que se dá em conta-gotas
Em suaves prestações mensais
Pagas com cautela e recato
Favor manter a distância
Amor é tumulto
Suave como a tempestade
Quando se acalma
Meu coração não se basta
Com pouco amor
Quer a vertigem
E a emoção do mundo num abraço.