
Aquela noite ficará como a mais vergonhosa de toda minha vida.
Um Bispo, e a palavra de ordem era que eu fosse excluído sumariamente do meu cargo ou ministério, contemplei o rosto crispado de ódio, dedo em riste em minha direção, exigia que eu me retratasse da “Fofoca” em que estava metido.
Naquela sala, senti-me num corredor do inferno; cheguei a ouvir o ranger de dentes.
Trataram-me como um criminoso trazido à delegacia. Eu procurava não acreditar no que via e ouvia, porém, sabia que tudo era cruelmente verdadeiro.
Fui tomado pelo constrangimento. Imaginando algum neófito ouvindo aquilo tudo e associando aquela bagunça com o Evangelho de Jesus de Nazaré.
Pensei comigo: “se o conteúdo do discurso e doutrinas dos evangélicos geram aquele tipo de gente, seria uma infâmia ligá-los ao meigo Carpinteiro". No meio daquele embaraço bárbaro (orquestrado sim, mas não menos ordinário ou mal-educado) consegui me recompor, repetindo para mim mesmo: “Não se espante, você está diante do lado mais podre da igreja”.
Realmente, o lado mais desgraçado da igreja é aquele que defende a “retidão” e ao mesmo tempo gera ódio e intolerância. Por muito tempo nutri uma visão idealista dos “homens de Deus”.
Acreditei que os corredores das igrejas estavam povoados de pessoas bondosas e amáveis. Mas, enganei-me. Naquele dia descobri como a defesa da “verdade” religiosa estranhamente cria sentimentos implacáveis. Ela desfigura a ternura do olhar e faz as pessoas se comportarem como verdugos.
O lado mais patético da igreja é quando a linguagem piedosa camufla a sordidez do caráter. Fui obrigado a ouvir discursos do tipo “o Anderson é um referencial para minha vida”, quando eu tinha em mãos um email em que a mesma pessoa me rotulava de ladrão.
O puritano “Bispo” não sabia que eu tivera acesso a esse email.
Sinto asco de seu olhar meloso que tentava disfarçar a mais abominável traição. Quanta desfaçatez existe nas falsas santidades; quanta mentira se mistura nas corretas afirmações doutrinárias.
O lado mais grotesco desta Igreja é sua obsessão pelo poder. Essa igreja prometera que seria a “salvadora” do evangelho. Como se embriagaram de messianismos, viram que precisariam conquistar o poder institucional e politico. Mas antes teriam que demonizar qualquer um que decidisse sair e se filiar a outras denominações. Convocaram um incendiário para espalhar boatos pela igreja (falaram coisas esdrúxulas sobre os que saiam e abandovam o barco furado).
A sordidez foi tão baixa, tão mesquinha, que fico sem coragem de encarar meus amigos. Entretanto, não estava em jogo a defesa da verdade, nem a defesa da fé, mas a apropriação de uma glória que jamais cobicei.
O lado mais monstruoso da Igreja é a ganância embutida nas proclamações de fidelidade. Naquela fatídica noite, ficou claro que o dinheiro ainda dá as cartas e o jogo da religião fica bruto. O lucro fácil e a possibilidade de ganhar um bom salário com um mínimo de capacidade intelectual, um mínimo de preparo acadêmico, um mínimo de traquejo social, é o calcanhar de Aquiles da igreja.
Vejo médicos e professores universitários com doutorado com salários mais baixos do que os pastores tiram da tesouraria de suas igrejas, infelizmente.
Nessa Igreja não foi e não é diferente do que acontece em muitos ambientes religiosos. Alguns dos dissidentes sabem que não possuem cacife para tocar seus “sonhos pelo Reino de Deus”, por isso, lutaram para ficar com o nome ou titulo e se manter em destaque, pois, esta igreja foi uma marca de credibilidade e honradez.
O lado mais triste da igreja é que ela se imagina perfeita, mas causa constrangimentos absurdos.
O lado mais satânico da Igreja é que ela fere os pequeninos. Quantas pessoas foram feridas e quanta dor causada pela febre incontida do poder. A volúpia do messianismo que defende a ortodoxia como guardião do templo, deixa rastros malignos.
Jamais conseguiremos contar o número de pessoas feridas, decepcionadas e desviadas da fé só porque um grupo de Apóstolos, bispos e pastores não teve a grandeza de abrir mão de projetos pessoais em nome da paz.
Minha ferida quase foi letal, mas fui curado pelo carinho de queridos que me abraçaram carinhosamente. Minha decepção quase foi total, entretanto, o Espírito de Deus me encheu de sua virtude, devolvendo-me à estrada de minha vocação, continuarei procurando alinhar minha vida ao Evangelho de Jesus de Nazaré.
Nem eu sei...